Lisa Bodell, autora, fundadora e CEO da Futurethink, será uma das palestrantes da IHRSA 2018, em San Diego. Com o tema “Transforme a sua empresa: o fim do status quo e o início de uma revolução inovadora”, Lisa mostrará que só é possível mudar com criatividade. A seguir, você confere, na íntegra, uma entrevista que ela concedeu à revista Club Business International. A tradução é da ACAD Brasil.
Club Business International: O título da sua apresentação na IHRSA 2018, o mesmo de seu best-seller, é Transforme sua empresa: O Fim do Status Quo, e o Início de uma Revolução Inovadora. O que você quer dizer?
Lisa Bodell: Em muitas empresas, fala-se muito em “pensar fora da caixa” ou “abraçar o novo”. Apesar do belo discurso, é raro que essas iniciativas consigam transformar a organização em um modelo inovador. No final, voltamos ao estado anterior, ao status quo. Apesar das melhores intenções, muitas iniciativas de inovação não dão em nada simplesmente porque a própria empresa foi criada para rejeitá-las. Embora haja estímulo à criatividade, estamos inseridos num sistema que a desestimula. Esse é o paradoxo que estou revelando. A maioria das empresas, particularmente as que têm dificuldades de inovar, tende a ostentar culturas negativas ou simplesmente complacentes. Há lugares em que a burocracia, a política e a papelada são preponderantes, e o ceticismo se tornou um hábito naturalizado. Tudo isso são alertas de um ambiente conservador, que pode matar a empresa.
CBI: E qual é a solução que você propõe?
LB: O livro dá uma visão de fora sobre a empresa, dá a liberdade necessária para pensar de forma criativa sobre suas necessidades. O exercício foi criado para fazer pensar de modo diferente sobre a empresa. Em vez de perguntar “como vencer a concorrência?”, perguntamos “como a concorrência pode nos vencer”. Esse tipo de abordagem de fora para dentro permite dispensar o que é ruim e o que não funciona, e dá espaço para que a mudança e a transformação se instalem.
CBI: As duas palavras centrais em sua mensagem são “inovação” e “simplificação”. Por que esses dois conceitos tão importantes, especialmente agora?
LB: O que o livro recomenda é simples: para simplificar, é preciso antes se livrar das coisas que não dão certo, ao invés de insistir nelas. É como uma faxina corporativa. A ideia é questionar pressupostos e colocar em cheque regras que perderam utilidade. Ao eliminar essas atitudes de afirmação do status quo, damos espaço às novidades e a formas de trabalho com mais valor agregado, como o raciocínio. Muitas iniciativas de mudança só fazem acrescentar uma camada de processos às tarefas de funcionários sobrecarregados e extenuados. Mas não esta. A inovação tem que melhorar as coisas, não piorar; deve tornar as coisas mais fáceis, não mais complicadas. O livro é um guia para simplificar e aperfeiçoar, e então criar e manter um lugar em que a energia e o espírito inovador de todo mundo contribua para as metas comuns da empresa, a longo prazo. A empresa que permite ao funcionário pensar de forma crítica, questionar sem descanso e agir com ousadia é uma empresa de futuro.
CBI: Bancando o advogado do diabo: muitas pessoas acham que inovação invariavelmente implica em mais complexidade, não simplicidade.
LB: Não acho que inovação pressupõe complexidade. Ao contrário, acho que a complexidade é que muitas vezes interfere na capacidade de avançar. A complexidade, na verdade, está matando a capacidade de inovação e adaptação das empresas, e a simplicidade está muito rapidamente tornando-se a grande vantagem competitiva de hoje. Ao descobrir como eliminar redundâncias, comunicar-se de forma clara e fazer da simplicidade um hábito, pessoas e organizações podem reconhecer quais atividades são desperdício de tempo e quais realmente geram valor duradouro. Quando se eliminam as tarefas de baixo valor, a pessoa se sente menos sobrecarregada e mais empoderada, pode investir cada dia fazendo coisas que importam – como inovar.
CBI: Você fundou a futurethinking para “oferecer uma abordagem simples para o tema geralmente complicado da inovação”. Como isso aparece na negociação com o cliente?
LB: A gente apresenta um plano simples de quatro etapas: estratégia, ideias, processo e ambiente. Todos os inovadores de sucesso têm essas competências básicas. Nós desenvolvemos as habilidades que tornam esses componentes parte ativa da cultura do cliente, damos ferramentas descomplicadas, que qualquer um pode usar. Ensinamos técnicas como “matar regras estúpidas” para criar a cultura de simplificação, ensinamos a “reversão de pressupostos” para questionar normas e possibilitar a ruptura mais fácil, e ensinamos a equipe a cultivar uma mentalidade que permita avanços reais. A ideia é: tem que ser rápido e acessível, se não vão tentar; tem que ser fácil de aprender e fácil de usar, se não vão adotar.
CBI: Por que a simplicidade está se tornando uma vantagem tão grande? Você pode quantificar os benefícios?
LB: Bem, por exemplo, de acordo com o índice de complexidade da Siegel+Gale, as empresas mais simplificadas foram capazes de superar em 214%, em termos financeiros, empresas que não estão no índice; e puderam cobrar preços 6% superiores aos da concorrência. E mais, o funcionário nesses ambientes de trabalho tem 30% mais de chance de permanecer na vaga, porque tem paixão pelo que faz. Isso leva à redução da rotatividade de pessoal, o que significa menos tempo e dinheiro, gastos em recrutamento.
CBI: Parece que você luta para mudar a noção que uma empresa, seus executivos e funcionários têm sobre a inovação. Que aspecto dessa atitude precisa mudar?
LB: A mudança é difícil porque geralmente está enraizada no medo – essencialmente, medo do desconhecido. Quando alguém nos pede ou nos força a mudar, resistimos porque o medo limita a mente ao tronco encefálico, a parte do cérebro que fica na base do crânio, condicionada a “lutar ou correr”. Nos negócios, muitos líderes, quando confrontados com uma ideia boa e nova, dão um passo atrás e pedem mais explicações, dados financeiros etc. Têm receio de assumir risco. Isso ativa a parte do cérebro que sinaliza “corra dessa ideia!”. Por outro lado, um líder evoluído se adapta, sente-se confortável com o desconhecido e conhece sua tolerância ao risco. Basicamente, o que ele faz é expandir a mente para o neo-córtex, para os lobos frontais do cérebro, que acionam a solução criativa de problemas e o raciocínio inventivo.
CBI: Que tipo de atitude nova você quer inculcar?
LB: Nossa meta é fazer com que as pessoas se abram para novas ideias e mudanças – não precisam ser grandes nem radicais. Uma mudança gradual representa um ótimo primeiro passo. Nós ajudamos a pessoa a tomar esse passo, deixar de ser um “cético profissional” e se tornar agente de mudanças.
CBI: Pode nos contar sobre sua consultoria: propósitos, abordagens e atividades?
LB: A futurethink é uma empresa internacional de treinamento sobre inovação. Temos uma abordagem simples de desbloquear esse potencial: nossos treinadores dinâmicos e nossos recursos premiados inspiram e fazem com que toda uma organização pense diferente, procure a mudança e tenha sucesso na inovação. Nós empoderamos empresas até mesmo em setores altamente regulados – como a Pfizer, JP Morgan e Lockheed Martin – para que resolvam problemas de formas incomuns e transformadoras, a longo prazo. Nossa abordagem facilitada de aprendizado por demanda transforma o status quo em uma mentalidade revigorada – com resultados mensuráveis.
CBI: Você já trabalhou com academias? Pode nos contar mais sobre a experiência?
LB: Ainda não trabalhei com nenhuma – mas fui cliente de várias. Isso conta?
CBI: Então provavelmente sabe que o mercado de fitness é praticamente sinônimo de novas ideias e tendências. O que nessa abordagem está correto ou não
LB: O que eu gosto no setor é que tudo é transformação – transformação da saúde, do corpo, da mente, da atitude. É inovador em essência. As pessoas envolvidas com academias são, geralmente, propensas à mudança. Mas eu acho que o setor talvez esteja inclinado a buscar tendências de curto prazo, em vez de inovação de longo prazo. Há muitas tendências e modismos, listas de dietas e nutrição “do momento”. Contudo, a verdadeira inovação é mais duradoura. Eu diria que os legítimos agentes de mudança no setor são aqueles que vêm com soluções para grandes problemas, não com modas de fôlego curto.
CBI: Você também ajuda empresas a “reconhecer e ativar oportunidades de crescimento”. Que conselho você daria aos empresários de academias?
LB: Como eu disse, gostaria de ver soluções para grandes problemas em relação a melhorar vidas – mobilidade, saúde etc. Exemplo de uma tendência de longo prazo: como lidar com as necessidades físicas da crescente população de idosos nos EUA. Talvez a situação indique que as academias devam ter gerontologistas na equipe, desenvolver soluções para um público mais idoso ou promover estilos de vida mais saudáveis, em vez de perda de peso, coisas assim.
CBI: A inovação parece ser o mantra corporativo dominante, hoje em dia. Mas a mudança constante não traz riscos? Como proteger seus valores essenciais e ter sucesso na inovação?
LB: O propósito da inovação não é gerar mudanças constantes. A ideia é ter visão do futuro e estar aberto à mudança para conseguir se livrar do que não dá certo e pensar em como capitalizar tendências emergentes. Uma empresa pode dar duro para aprimorar suas ofertas e, ao mesmo tempo, ter um monte de novas ideias para gerar renda adicional. A pior coisa que se pode fazer é deitar na cama e rezar para que o modelo de negócio funcione para sempre. IBM e Google identificam as principais tendências – ou “terrenos de caça” – em que vão se concentrar mais à frente e inovam nesses tópicos. Por quê? Tempo e recursos são limitados, e você precisa apostar onde há mais oportunidades. Isso também nos leva ao tema do gerenciamento de riscos quando falamos de inovação. Todo bom líder gerencia um portfólio de ideias espalhadas num espectro de risco. O Google faz aprimoramentos graduais a seus setores básicos – busca e anúncios – e ao mesmo tempo apresenta projetos imensos, revolucionários, que envolvem grandes ideias, radicais e audaciosas. Tem que ter os dois lados.
CBI: Qual é o impacto da invasão cada vez maior das tecnologias digitais?
LB: A tecnologia permite uma comunicação mais rápida e maior acesso a dados. Podemos usar aplicativos e outras ferramentas para colaborar de forma mais fácil e fazer mais em menos tempo. Mas o comportamento humano – com base em emoções relacionadas ao risco, medo, poder e controle – acrescentam essa camada de complexidade que afeta nossa capacidade de inovar. Nós abusamos dos dados, geramos relatórios demais, ficamos presos ao e-mail, agendamos reuniões desnecessárias. Eu sempre digo: “só porque você pode, não quer dizer que deva”. A cada novo investimento em tecnologia, a empresa deve pensar se aquela tecnologia vai realmente ajudar a produzir mais, ou se é apenas uma forma de compensar comportamentos complexos.
CBI: Não vamos perguntar se você quer “deixar um recado” para quem assistir à sua palestra no IHRSA. Em vez disso, perguntamos: o que você quer que eles façam de diferente quando voltarem à academia?
LB: Quero que façam da simplificação um hábito. Quero que comecem “matando” um item por semana – uma reunião, um relatório, uma regra, uma obrigação, um processo – e assim criar o espaço necessário para que haja mudança. Quando falamos de inovação, na verdade temos mais poder de fazer diferença do que pensamos.
Outras informações:
A palestra de Lisa será realizada no dia 21 de março, das 10h30 às 12h. Sua participação é patrocinada pela Myzone. Para obter mais informações sobre o programa de tradução simultânea ou se inscrever, conecte-se a http://hub.ihrsa.org/ihrsa-2018-translation-program-portuguese
Confira toda a programação do evento em português: http://hub.ihrsa.org/ihrsa2018-brochure-download-portuguese-0
Acesse a entrevista original em: http://pubs.ihrsa.org/CBI/December2017/December2017/index.html