March 2, 2021
Com unidades em dois continentes e em seis países, Anastasia Yusina, membro do board da IHRSA e palestrante confirmada na IHRSA Fitness Brasil Com Elas, traz uma perspectiva única para lidar com uma pandemia global.
Nascida em Moscou, Anastasia Yusina, ex-ciclista profissional, formou-se na Universidade de Moscou, no Instituto de Ciências Políticas de Paris (Sciences Po) e no Instituto Estatal de Relações Internacionais de Moscou (MGIMO), e possui um Ph.D. em economia. Em 2001, após uma década trabalhando em jornalismo e marketing para grandes empresas multinacionais, como Ericsson e Molineux, ela e seu marido, Alexey Kashirin, fundaram a Starta Fitness Holdings, com sede em Moscou. Hoje, a empresa opera duas marcas de academias de ginástica com instalações na Rússia, Bulgária e Armenia.
A Orange Fitness, uma oferta premium, tem 15 locais, enquanto City Fitness, uma opção de exercício mais acessível, tem 21. Em 2014, Yusina lançou o FITSPACE Boutique Studio, com sede em Hallandale, Flórida, que agora tem três locais na Flórida e um em Horsham , Pensilvânia. Membro do board da IHRSA e do Conselho Europeu da IHRSA, recebeu o Prêmio IHRSA de Liderança de Academias Europeu 2011.
Entrevistamos Anastasia Yusina, membro do board da IHRSA, para entendermos qual a sua perspectiva diante da pandemia de COVID-19 na Rússia em relação ao mundo. Confira!
P: Quando as paralisações começaram, o que você pensou sobre o setor, principalmente em relação à presença internacional de sua empresa?
ANASTASIA YUSINA: Acho que minha primeira impressão foi semelhante à que muitas pessoas em nosso setor tiveram: "Deve ser um sonho ruim! Não pode ser verdade!” Era algo que eu não conseguia imaginar.
P: Você sentiu que alguns países estavam mais bem preparados do que outros para lidar com a crise? Se sim, de que maneiras?
AY: Bem, você pode não concordar comigo, mas eu realmente acredito que a estratégia de imunidade de rebanho da Suécia foi a melhor. Eles confiaram na responsabilidade pessoal de seus cidadãos, evitaram bloqueios e não fecharam a economia. Sei que sua abordagem foi criticada no início, mas, agora, eles têm uma das taxas diárias mais baixas de novos casos da Europa. Eles sofreram mais do que outros países? Não vejo isso nas estatísticas.
P: O que você achou da atuação do governo russo com a crise?
AY: A Rússia tem leis trabalhistas muito rígidas. Tivemos que reter todos os nossos funcionários e pagar seus salários. Recebemos ajuda, mas, claro, não foi o suficiente. O setor de fitness recebeu muito mais assistência do que outros setores, mas, dito isso, o fitness ficou em 3º lugar na lista dos setores mais severamente afetados na Rússia. Assim, embora o nível de ajuda que obtivemos tenha sido baixo com base nas nossas necessidades, recebemos o máximo possível.
P: Como está a Strata Fitness Holdings agora? Quantos de suas academias estão funcionando?
AY: Nosso tamanho realmente nos prejudicou, dado o fato de que tivemos que pagar os salários de mais de 3.000 funcionários e não tivemos receitas durante os três primeiros meses de fechamento. Mas a mudança em termos de número de instalações não foi grande. Decidimos fechar uma das nossas unidades, mas o gestor resolveu dirigir o negócio por conta própria, e uma outra fechamos pelo aumento do aluguel, da qual estamos em uma batalha judicial. Curiosamente, também adquirimos duas instalações que agora operamos sob a marca Orange Fitness.
P: Como foi a reabertura para você na Rússia em comparação com os EUA? Quais foram algumas dessas diferenças?
AY: Não estamos falando apenas sobre a Rússia e os EUA; também operamos na Armênia e na Bulgária. E o processo de reabertura foi diferente praticamente de instalação para instalação. Na maioria dos países, essas decisões e regulamentações são tomadas em uma base regional - não no nível federal. Isso criou problemas adicionais porque não fomos capazes de escalar os procedimentos em todo o nosso portfólio.
P: Você também opera diferentes marcas e tipos de instalações fitness. Isso complicou ainda mais as coisas?
AY: Como eu disse, os problemas com os quais tivemos que lidar, na maioria das vezes, estavam relacionados às necessidades regionais, então os problemas não estavam relacionados à marca ou à categoria. Também não tivemos problemas relacionados ao marketing.
“Certamente, a pandemia foi uma experiência de aprendizado inesperada e indesejada, mas, como acontece com qualquer lição duramente conquistada, também tem o potencial de nos ensinar muito.” - Anastasia Yusina.
P: Você disse que a falta de apoio do governo tem sido uma preocupação, independentemente do país. O que você quer dizer com isso?
AY: Uma das coisas estranhas sobre esta crise que nenhum país que conheço reconheceu ou reconheceu que a boa forma é uma parte da solução para o COVID-19. Eu acho que a atividade física deveria ter sido amplamente promovida como uma forma de proteger as pessoas do coronavírus ou, então, no caso de indivíduos que contraíram a doença, para auxiliar em sua reabilitação posteriormente. O exercício é remédio! Achei decepcionante não ter ouvido essa mensagem.
P: Para muitos operadores, a discussão de reabertura se concentrou em se os membros voltarão, mas você teve algumas dificuldades por parte dos funcionários.
AY: Enquanto nossas academias estavam fechadas, bancos e algumas lojas permaneceram abertos. Muitos do nosso pessoal conseguiu empregos neles, pretendendo, inicialmente, que fossem temporários, mas, agora, eles decidiram ficar. Eles estão com medo de que possamos ser fechados novamente. Além disso, uma boa proporção de nossos funcionários são jovens e alguns não têm motivação ou estão inclinados a mudar de emprego e de indústria com frequência.
P: Que tipo de atrito de pessoal você enfrentou?
AY: Por causa dos mandatos dos funcionários na Rússia relacionados aos salários-base completos, perdemos apenas cerca de 5% de nossos vendedores e funcionários de atendimento bem treinados. A situação é pior nos EUA. O desemprego é alto e a assistência está disponível, então algumas pessoas não querem voltar a trabalhar.
P: Uma das questões que você discute é que os membros não querem usar máscaras ou luvas. Como você enfrentou esse desafio?
AY: Mesmo com reaberturas estabelecidas, esses não são problemas do passado. É uma batalha diária e ainda estamos aprendendo a lidar com ela.
P: Que tipo de números você viu em relação ao retorno de membros?
AY: Eu não posso dar a você números exatos em dólares, uma vez que isso realmente varia de academia para academia. Em média, perdemos cerca de 30% dos nossos membros - o que é absolutamente catastrófico!
P: Outra questão tem sido lidar com os proprietários. Como foi para a Rússia?
AY: Na Rússia, 80% dos proprietários ajudaram os inquilinos. Nos EUA, recebemos pouca ou nenhuma margem de manobra deles.
P: Você conseguiu negociar? Quais táticas funcionaram?
AY: Parte do motivo pelo qual tivemos mais ajuda de nossos proprietários russos é que 90% dos operadores de fitness assinaram cartas dizendo que não alugaríamos espaços dos concorrentes, o que nos ajudou nas negociações. Nos EUA, os proprietários simplesmente não negociam.
P: Ao falar com outras operadoras em todo o mundo, você concluiu que essas questões são universais?
AY: Até certo ponto, sim. Certamente, os problemas de aluguel variam de acordo com o país. Mas os funcionários e membros expressaram cautela quanto ao retorno. Eles querem ter a certeza de que estão entrando em ambientes seguros.
P: Como você vê a indústria emergindo e mudando no próximo ano e, digamos, nos próximos cinco anos? Você acha que algum dia ela voltará aos números pré-pandêmicos?
AY: Esta não é a primeira crise que sobrevivemos na Rússia, mas, desta vez, não foi uma crise financeira. Isso envolveu um bloqueio total - uma situação que ninguém esperava. A principal lição aprendida foi que algum tipo de cláusula pandêmica precisa ser incluída em todos os contratos.
P: Há algo que a indústria poderia ter feito melhor para responder à pandemia?
AY: Considerando que a situação era tão diferente por país, região, estado e cidade, etc., eu acho que, coletivamente, nós nos saímos bem! Novamente, precisamos apresentar uma frente unida e enviar uma mensagem conjunta a todos os órgãos governamentais relevantes de que, durante uma pandemia, não somos um problema. Somos parte da solução de saúde.
P: Algo que você gostaria de ter feito melhor?
AY: Gostaria que tivéssemos tido um relacionamento melhor com a imprensa. Estar bem informado sobre os serviços que oferecemos os teria ajudado a entender melhor exatamente como o nosso setor é importante para todos. O exercício, além de fundamental para a saúde física e imunológica, também é uma solução viável para a saúde mental.
P: Como membro do conselho de administração da IHRSA, como você acha que o manejo da crise ajudará seus membros a longo prazo?
AY: Todos nós sabemos que tudo o que não nos mata nos torna mais fortes. Certamente, a pandemia foi uma experiência de aprendizado inesperada e indesejada, mas, como acontece com as lições duramente conquistadas, também tem o potencial de nos ensinar muito. O IHRSA pode capitalizar o que foi aprendido, entre outras coisas, criando recursos educacionais sobre tópicos como lidar com os proprietários dos imóveis, como trabalhar com o governo e que tipo de condições adicionar aos contratos dos clientes.
P: Você gostaria de ver a IHRSA transmitir o que está próximo de seus membros?
AY: A missão da IHRSA é "crescer, proteger e promover a indústria." No futuro, uma grande parte de seus esforços deve ser dedicada a levar a mensagem a todos de que um indivíduo saudável é menos vulnerável a todo e qualquer vírus e doença; e que é do interesse de todos os governos em todos os países apoiar às academias de ginástica. Se trabalharmos coletivamente para tornar as populações mais saudáveis, estaremos em uma posição melhor, em todo o mundo, para combater efetivamente doenças como essa. Temos que compartilhar esse compromisso e nossa experiência combinada com todos os participantes do setor.
P: Que desenvolvimento positivo da indústria, se houver, você observa emergindo da pandemia?
AY: O aspecto mais positivo, eu acho, é que nós, como operadores de academias - de todo o mundo - nos aproximamos. Nós conversamos e apoiamos um ao outro. E espero que continuemos fazendo isso no futuro. Durante o calor da pandemia e além, IHRSA tem promovido consistentemente seu lema e mantra - o de "Sucesso pela Associação". Nunca antes nossa indústria personificou e concretizou tanto esse ideal.
Anastasia Yusina no IHRSA FB Com Elas
Anastasia é uma das palestrantes confirmadas na IHRSA Fitness Brasil Com Elas. Não perca a oportunidade de conhecer mais sobre o trabalho dessa líder inspiradora, fazendo perguntas e tirando dúvidas sobre o mundo dos negócios.
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Texto por John Feld para a revista CBI. Edição Dezembro 2020. Página 21.
Tradução e adaptação por Samantha Cortijo.