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O empresário Isaac Lidsky é mais um dos palestrantes da IHRSA 2018, em San Diego. Depois de perder a visão, ele conseguiu insights únicos que permitiram com que fosse bem-sucedido na vida. Em entrevista a revista Club Business International, ele conta um pouco mais sobre sua palestra “De olhos bem abertos” e como o fato de ser deficiente visual o ajudou a realizar seus planos. Confira a entrevista na íntegra:
Club Business International: Sua palestra na 37ªedição da IHRSA é intitulada “De olhos bem abertos”. Consegue explicar melhor o tema?
Isaac Lidsky: A cada minuto, cada momento, escolhemos quem queremos ser e como queremos viver nossas vidas. É nosso poder supremo e nossa responsabilidade inescapável. "De olhos bem abertos" é sobre assumir o controle - fazer essas escolhas com consciência, intenção e propósito - e se responsabilizar por elas.
CBI: A apresentação é, em parte, baseada no seu best-seller, cujo subtítulo é: "Superar obstáculos e reconhecer oportunidades em um mundo que não pode ver claramente". O que você quer dizer com "não pode ver claramente”?
IL: Nós somos os mestres das nossas próprias realidades, mas nem sempre nos sentimos dessa forma. Muitas vezes, acreditamos nas terríveis ficções de nossos medos; Nós percebemos o sucesso e o valor em nossas vidas de forma errada; Negligenciamos as nuances da "sorte", perpetuamos nossas inseguranças e vaidades; Resistimos a ouvir uns aos outros e nossos próprios corações.
Quando percebemos nossas limitações - as maquinações de nossas próprias mentes - como verdade objetiva e imutável, não estamos vendo com muita clareza.
CBI: O destaque na visão é devido, obviamente, ao fato de que, em 1993, você foi diagnosticado com Retinite pigmentosa, uma doença genética e sem cura, que fez com que perdesse a visão. Você pode descrever o processo pessoal e interno que o levou a partir desse diagnóstico para se concentrar, como autor e palestrante, na visão?
IL: O que enxergamos parece "verdade" - algo que é a realidade objetiva, que é factual, é universal. Mas, à medida que meus olhos se deterioravam progressivamente, eu literalmente vi, de primeira mão, que a experiência da visão é completamente diferente. É uma realidade virtual única, pessoal, construída no cérebro, e envolve muito mais do que nossos olhos.
Comecei a procurar outros exemplos e percebi que as “verdades" objetivas, as crenças e os pressupostos eram, na realidade, criações da minha própria criação - que eu poderia mudar. Essa visão de "olhos abertos" me permitiu assumir o controle da minha realidade e do meu destino.
CBI: Você disse uma vez: “Por mais estranho que possa parecer, perder minha visão, de certa forma, foi uma experiência gratificante para mim". Uma observação um tanto inesperada! Por favor, explique para nós.
IL: Quando fui diagnosticado, eu acreditava que a cegueira estragaria minha vida. Eu estava errado. Perdi a visão, mas ganhei a "visão" para definir e criar a vida que queria para mim. Aconteceu que foi uma profunda benção, que eu quero compartilhar com os outros, para que eles também possam usar os insights que ganhei com a cegueira.
CBI: Sua condição certamente não o impediu de se desenvolver. Você tem diplomas da Harvard University e Harvard Law; trabalhou como advogado para os juízes do Supremo Tribunal Sandra Day O'Connor e Ruth Bader Ginsburg; cofundou um negócio de otimização de publicidade baseada na Internet que eventualmente vendeu por 230 milhões de dólares; e transformou sua empresa atual, a ODC Construction, LLC, que estava em dificuldades, em um negócio próspero. O que o motivou?
IL: Ser pai.
É, sem dúvida, a experiência mais importante e gratificante da minha vida, e também a mais difícil até agora. Para mim, ser pai levou minha responsabilidade pessoal para um novo nível.
Nós ensinamos nossos filhos muito mais com as ações do dia a dia e com nossos exemplos, do que com as palavras. Eu sei que preciso mostrar para meus filhos os comportamentos e as atitudes que quero para a vida deles - não posso simplesmente falar sobre essas coisas. É uma grande responsabilidade.
No trabalho e em casa, minha visão de “olhos bem abertos” me trouxe alegria, satisfação e sucesso imensuráveis. É algo no que eu trabalho diariamente, e é libertador e motivador.
CBI: Alguma vez você já duvidou de si mesmo? Você já falhou?
IL: Sim e sim! Frequentemente! Olhos-abertos é minha aspiração diária. É uma disciplina que requer esforço e compromisso. Eu confronto dúvidas, medos e ansiedades como todos os outros, mas trabalho duro para ver através delas.
De uma maneira bonita, o fracasso é progresso. É conhecimento e sabedoria. É inevitável para crescer e aprender. Meus inúmeros erros e percalços, ao longo do caminho, muitas vezes foram o meus melhores professores na vida.
CBI: O que mantém tantas pessoas buscando e realizando seus sonhos? Falta de confiança? Medo de falhar? Como você pode ajudar as pessoas a mudarem de uma postura "Eu não posso" para "Eu posso"?
IL: Nossos medos podem nos levar a uma realidade falsa e terrível. Tememos o pior, supondo que vamos enfrentá-lo, mas a maioria dos medos nasce ou, pelo menos, são alimentados, pela ignorância - as coisas que não conhecemos.
O segredo é ser claro sobre o que você realmente conhece e o que acha que sabe. Nós temos medo, precisamos tomar toda a informação possível, expandir nossa visão e questionar tudo. Mas, muitas vezes, o medo produz o efeito oposto.
Estamos condicionados a desempenhar nosso papel na terrível realidade de nossos medos pelos heróis e vilões percebidos em nossas vidas. É assim que nossos medos se tornam reais - quando abdicamos da responsabilidade, culpando outros. Procure por heróis e vilões em sua vida. São invenções de sua imaginação. Você é o criador da sua realidade. Você e apenas você!
CBI: Desde que você adquiriu a ODC, você a transformou de uma empresa que fabricava fundações e quadros - o que você chamou de “as entranhas de uma casa” - em um negócio de construção e logística de serviço completo. O que você "viu claramente" na empresa que o antigo proprietário não percebeu?
IL: Minha equipe e eu desenvolvemos uma visão compartilhada de uma "maneira melhor" para entregar serviços valiosos aos nossos clientes empreiteiros e nos comprometemos com a excelência nesse esforço. Nós também nos divertimos muito juntos. Essa é a principal característica do nosso sucesso.
CBI: Depois de assumir, você apresentou uma série de mudanças drásticas. Você contratou sua própria equipe de trabalho, em vez de confiar em subcontratados; contratou um especialista em vendas da indústria; escreveu seu próprio software para aumentar a eficiência; desenvolveu um sistema de logística; criou uma equipe de gerenciamento de projetos que funcionou a partir de uma "war room" ... Isso tudo exigiu qual tipo de processo?
IL: Nós começamos a mudar a empresa abraçando um espírito de curiosidade, e como eu disse, um compromisso de ser excelente. Nos perguntávamos "Por quê?" em relação a todos os aspectos do nosso negócio, grandes e pequenos. Por que fizemos certas coisas de certa maneira? Como podemos fazê-las melhor?
Nosso foco foi no progresso incremental, o melhor próximo passo em qualquer ocasião. Nossa prioridade era agregar valor para o cliente. Nossa cultura foi definida e moldou meu entusiasmo, uma ânsia de fazer algo especial juntos e se divertir fazendo.
CBI: Como sua cegueira afeta, informa ou aprimora sua maneira de trabalhar com sua equipe?
IL: Por não ver gestos ou expressões faciais, tenho que insistir muito mais em comentários verbais. Em essência, minha equipe é obrigada a me dizer o que eles pensam.
Em primeiro lugar, isso era estranho, e eu temia que a estranheza fosse resultado da minha cegueira – que eu era um fardo para minha equipe e a empresa de alguma forma. Agora, entendo que a estranheza é uma parte natural da comunicação significativa.
Quando dizemos às pessoas o que pensamos, nos tornamos vulneráveis, e, muitas vezes, é desconfortável, mas vale a pena e é fundamental para o sucesso de uma equipe.
Em última análise, minha cegueira tornou-se um grande patrimônio para minha empresa e para mim como líder. Isso fez com que eu e meu time nos comunicássemos em um nível mais profundo, nos ajudou a evitar ambiguidades e a deixar claro a todos que o que acreditam é realmente importante.
CBI: Com as mudanças que tiveram na empresa, o que mudou hoje em termos do tipo de negócio que está fazendo, do número de funcionários, receitas e perspectivas para o futuro?
IL: De 2011 a 2017, passamos de uma dúzia de funcionários corporativos para mais de 150; de cerca de 80 trabalhadores full-time para mais de 400, de uma instalação na Flórida para quatro; e de perder dinheiro em cerca de US$ 15 milhões em receitas para margens de lucro saudáveis em aproximadamente US$ 200 milhões. Ajudamos a construir mais de 5.000 casas em 2017, e ainda estamos crescendo muito rápido...
CBI: Você recomendaria que os donos de outros negócios - como os gestores de academias – recuassem periodicamente, analisassem todos os aspectos de seus negócios e considerassem a possibilidade de implementar mudanças?
IL: Não necessariamente. Eu acho que você deve começar com uma investigação maior - a de definir seus objetivos na vida. O que você realmente deseja realizar? Quem quer ser, e como quer viver sua vida? Pode comprometer-se com a sua resposta e pode fazer uma escolha sincera e consciente para trabalhar em direção a esses objetivos?
No seu negócio e em casa, o teste é: Quais são as diferenças entre a maneira como você gostaria de viver sua vida e a forma como a viveu - as diferenças em termos de quem você é, como trata o outro, como permite que os outros te tratem, como gasta seu tempo e o que realiza?
Se essas coisas são diferentes, e você não está fazendo nada a respeito, a mudança precisa acontecer. Você precisa entender o resultado desejado antes de começar a descobrir como fazer isso acontecer.
CBI: O que os gestores precisam fazer para ter esse tipo de visão?
IL: A clareza da visão exige que você seja absolutamente honesto consigo mesmo e seja responsável por você - por seus pensamentos, opiniões, verdades e ações. Causamos grandes danos internos quando mentimos para nós mesmos.
Porém, a situação acaba piorando quando evitamos encarar a nós mesmos. Eu acho que a introspecção é uma habilidade negligenciada e que é crítica.
CBI: Academias, na maioria dos casos, são uma forma de negócio para ajudar as pessoas a mudarem o estilo de vida. Algum conselho sobre como podem ajudá-las a fazerem isso?
IL: Nossas maiores aspirações são, muitas vezes, esmagadoras em escala. Nós experimentamos o sucesso no momento, que seria o próximo passo, no processo de realmente lutar para uma busca nobre. Quando ficamos fixados em um objetivo distante, no entanto, podemos nos desanimar ou nos perdermos.
Com isso em mente, penso que a perspectiva é a chave. "Eu quero trabalhar mais porque eu quero perder 50 libras" é uma perspectiva assustadora. "Eu quero me sentir mais saudável" ou "Eu mereço investir tempo e esforço no meu bem-estar", ou "Eu trabalho para me sentir mais feliz e mais enérgico" - são proposições mais sustentáveis.
Faça do "objetivo" um subproduto de um compromisso de estilo de vida, não o único motivo para isso.
CBI: Você disse uma vez: "Se você vai avaliar o seu lote na vida ou nas suas circunstâncias, é justo observar a imagem inteira. E dessa perspectiva, estou além da sorte". Por que você acha que está além da sorte?
IL: Eu ganhei na loteria cósmica no nascimento - nasci em uma família de classe média na América, meus pais que me amaram e me alimentaram e cresci com três maravilhosas e talentosas irmãs. Nunca tive fome e nunca faltou abrigo, saúde ou educação de qualidade. Fui abençoado por inúmeras experiências fenomenais na minha vida. E, é claro, que eu compartilho essa vida com uma esposa que eu admiro e adoro, e com nossas quatro lindas crianças... Não tenho absolutamente nada a reclamar - cego ou não.
Outras informações:
A palestra de Isaac será realizada no dia 24 de março, das 11h30 às 12h30. Para obter mais informações sobre o programa de tradução simultânea ou se inscrever, conecte-se a http://hub.ihrsa.org/ihrsa-2018-translation-program-portuguese
Confira toda a programação do evento em português: http://hub.ihrsa.org/ihrsa2018-brochure-download-portuguese-0
Acesse a entrevista original em: http://pubs.ihrsa.org/CBI/2018/March2018/